sábado

Será hoje que matarei as saudades que cravo no peito. Ele vai aparecer. Ele vai aparecer. Ele vai aparecer. Ele tem todos os motivos para aparecer. Eu vou ficar à espera... Ele vai aparecer. Ele vem, tenho a certeza que ele vem. Atrasou-se. Perdeu o autocarro ou o telemóvel. Não me viu chegar. Ele vai aparecer. Está à minha espera noutra rua... Não, estou bem, confirmo várias vezes que era aqui. Era aqui - no meu coração. Oiço as suas palavras, mas a sua voz está apenas na minha cabeça. Diz-me coisas bonitas, diz que me quer. Porque é que ele havia de não aparecer? É claro que ele vem. Ele quer vir. Ele vem. Dizem que quanto maior for o nosso investimento, maior é o nosso ganho e não há maior investimento do que este, a que eu me dispus. Ele não ia deitar isto fora. Claro que ele não ia... Hoje é sábado amor, como são bons os sábados (e nós sabemos bem disso). Fiz o mesmo como todos os outros, acordei instintivamente e com um sorriso. Passo as mãos nos lençóis, sei que vão estar apenas lençóis mas abraço o vazio. Aliso a cama, tomo banho e deixo a água correr quente pelo meu corpo, deixo que me caia pelas costas e escorra espuma até aos joelhos. Seco-me rápido, visto-me e já estou pronta. Vou a correr para a janela, onde o vejo chegar. Ele vai aparecer. Ele vai aparecer.


... Ele não apareceu.

Sem comentários: